Você ainda tem imaginação?
- Carolina Soares
- 11 de set.
- 2 min de leitura
Esses dias, eu assisti novamente A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata.
Sim, o título é meio estranho. Mas é um dos meus filmes favoritos.
Ele se passa durante/pós Segunda Guerra Mundial, em um cenário onde quase tudo foi tirado das pessoas: a liberdade, o alimento, a esperança… E, ainda assim, elas resistem.
Mas o que mais me marcou nem foi a guerra, nem exatamente a torta de casca de batata.
Foi o mundo que elas criaram juntos.
Um clube literário secreto, em uma época onde até imaginar era perigoso.
Hoje em dia, a gente consome cultura o tempo todo.
Mas criamos muito pouco.
Ou melhor: imaginamos muito pouco.
Quando você vê um filme, tudo já está pronto.
A música, a cor, a legenda, a emoção… você se senta, e sente o que prepararam para você.
Com um livro, não.
Com um livro, você entra em um mundo que “não existe”, e é você quem vai construir esse mundo por dentro.
As cores, as cenas, os rostos, os cenários... tudo guiado pelo autor, mas note que ele não te da todas as cartas, você ainda precisa criar esse universo único.
Assim cada um lê uma história diferente, mesmo que seja o mesmo livro. Isso é mágico.
E é nesse processo que a criatividade acontece.
Quando a gente imagina o que não está ali.
Quando exercita a mente com espaço, não com excesso.
Será que estamos deixando de criar porque estamos deixando de imaginar?
Outra coisa que notei com o filme: como o acesso à cultura está cada vez mais digital, e menos nosso.
Hoje, você não tem mais um livro, você tem um Kindle.
Você não tem mais um filme, você tem uma assinatura.
O problema não é a tecnologia.
É que a gente está perdendo o direito de ter as coisas.
Você pode pagar, mas ainda assim aquilo não é seu.
Se alguém quiser tirar uma música do ar, acabou.
Se um livro for banido de uma plataforma, ele desaparece.
Mas se ele estiver na sua estante… ele resiste.
Mídias físicas são resistência.
São memória viva.
São independência.
Num mundo que silencia com cliques, ter algo nas mãos é ter uma história inteira que ninguém pode deletar.
Livros, discos, revistas, cartas.
Tudo isso faz parte de um tipo de liberdade que a gente não sente mais porque perdeu aos poucos.
É uma liberdade que mora no “ter”.
E não por consumismo, mas por autonomia.
O livro físico não depende de conexão.
O CD toca mesmo se o artista for “cancelado”.
A revista está ali, mesmo que a editora feche.
Essa cultura palpável é o que impede que as narrativas desapareçam.
E talvez, num futuro nem tão distante, seja a única forma de lembrar do que fomos e do que tentaram nos impedir de ser.
Esse texto não é só sobre nostalgia…
Estamos lendo menos.
Criando menos.
Imaginando menos.
E com isso, estamos sendo moldados pelas narrativas que nos entregam prontas, sem poder tocá-las, nem questioná-las.
Enfim… esse papo é longo, mas vale a pena pensar.
Leia um livro físico essa semana.
Compre um disco.
Guarde uma história.
Proteja sua imaginação.
Ela ainda pode ser a sua forma mais pura de liberdade.
BeijosLuz, Carol.


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